quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Lentes da cidade

São Paulo, quarta-feira, 12 de novembro de 2008

FOLHA DE S. PAULO

cotidiano

GILBERTO DIMENSTEIN

Lentes da cidade

André Douek preparou jornadas
fotográficas por SP que registraram
monumentos e festas religiosas e
populares

NO PRÓXIMO dia 23 de manhã, um domingo, André Douek
estará reunido com um batalhão de fotógrafos profissionais e
amadores numa estação de metrô.
Esse será o ponto de partida de um dos maiores prazeres de sua
vida -fotografar, em bando, a cidade de São Paulo. Para sua
felicidade, o hobby é uma extensão do que ele faz todos os dias
numa repartição pública, onde toma conta do maior acervo
fotográfico da cidade -são 600 mil negativos.
Nascido no Cairo (Egito), André Douek fugiu para o Brasil ainda
criança, vítima de conflitos políticos. Além do árabe, a língua
materna de Douek é o francês. Em São Paulo, estudava apenas
nessa língua na escola e, por muito tempo, teve dificuldade de
comunicação. Até hoje, suspeita que começou a fotografar para
se comunicar melhor com os brasileiros. "Eu tinha dificuldade em
falar português. Achava que, com a imagem, tudo ficaria mais
fácil. Tinha o prazer visual pela cidade, onde eu costumava andar
a pé e ficar observando os detalhes."

Sua carreira passou por diferentes caminhos. Estudou
matemática na USP e desistiu. Depois, formou-se num curso da
Belas Artes. Para sobreviver, deu aulas de francês. Até que se
especializou em fotografia e se tornou professor. Anos depois,
trabalharia como repórter-fotográfico. Há pouco tempo, foi
convidado a ocupar um cargo no departamento que cuida da
manutenção e do registro das imagens de São Paulo. Mas o que
queria mesmo era colocar o pé na rua, pois não se conformava
com o desconhecimento das pessoas sobre a cidade. Preparou
jornadas fotográficas temáticas, uma delas dedicada apenas aos
monumentos; outra, às festas religiosas e populares.
"Vi como ficaram aturdidos muitos dos participantes dos
passeios diante das festas de são Vito, são Genaro e Achiropita."

Com a mudança de governo, André Douek não sabe qual será o
seu destino, já que tem um cargo de confiança. No entanto, sabe
que jamais abandonará suas jornadas, nas quais se sente, muitas
vezes, como a criança que chegou aqui com sete anos, fugida do
Egito e encantada por uma nova cidade sem ódios.
Ele já tem outra ação com data marcada: em 25 de janeiro,
aniversário de São Paulo, pretende documentar a cidade com
fotógrafos profissionais e amadores, em diferentes regiões,
durante 24 horas seguidas usando as redes da internet. "São
Paulo e fotografia são as minhas duas grandes paixões."

PS Coloquei no http://www.catracalivre.com.br/ uma seleção de fotos
de Douek.

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